Ele adentra a sala, límpido.
Fala, observa. Os olhos atentos. As palavras precisas (às vezes nem tanto).
Circula o ambiente.
Ela já estava lá dentro quando ele entrou.
Também observa muito. Fala menos. As palavras menos precisas. Quase perdidas.
Ele fica atento e ouve ela falar. As palavras vão se perdendo, mas ele consegue recuperá-las.
Ela, muito agitada, quer falar de tudo de repente, quer pensar em tudo, quer fazer tudo e viver de tudo.
Ele acompanha os loopings daquela conversa sem sentido. Riem. Não sei se sabem de que, mas se entendem.
Ela derrama sobre ele algumas lágrimas e ele se comove. Não sabe mais se ela está feliz ou não. Tenta animá-la fazendo graça, e ela retriubui sorrindo.
Ele quer mais e sobe na cadeira. Faz um discuro, planta bananeira. Ela bate palmas e se diverte com o espetáculo.
Animado, ele sobe as escadas, corre e faz um circo para ela, que vibra.
Em meio a rodopios, escorrega e cai. Batendo com força no chão. Os dois param: a respiração dele e o coração dela.
A magia do memento se desfaz, como uma música parada no meio de um acorde.
Ela deita ao lado dele, fecha os olhos e lembra de Sheakspeare.
Deixa mais lágrimas rolarem. Ele abre os olhos, mas não revela o segredo. Continua silencioso sentindo um pouco do calor daquele sofrimento.
Depois sente pena dela e entrega o mistério, sorrindo com os olhos.
Ela fala um monte de palavras pouco precisas e ele vai recolhendo carinhosamente e arrumando-as.
Deitam-se lado a lado, fecham os olhos e escutam o pensamento um do outro. Atentos um ao outro. Cada vez menos precisos, cada vez mais conectados.
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
domingo, 26 de setembro de 2010
Pormenores
Talvez nenhum dos dois tivesse um objetivo. Em comum, não o tinham, mas talvez nem propositos opostos.
Caminhavam.
O relógico carregava todo o peso dos seus ponteiros para arrastar os minutos, enquanto o tempo do lado de fora corria com suas pernas compridas e ágeis.
No longo intervalo entre um número e outro de minuto que passava, uma corrente de acontecimentos se preparava para acontecer. Um efeito dominó.
Cruzaram-se.
Nesse momento uma nuvem de pássaros sobrevoa as suas cabeças, cobrindo o sol e fazendo uma enorme sombra. Atordoados, juntos aos milhares de pedestres,
olham para o céu procurando pela luz. Veem que o dia virou noite. Os dois olham seus relógios e percebem os ponteiros parados.
Ela deve ter uns 20 anos. Entra em uma cafeteria para esperar o eclipse passar. Não avisaram nada na metereologia.
Ele entra na cafeteria logo em seguida. Pede um café e vai se sentar próximo à porta. Sentam-se ao lado um do outro, por acaso.
Ela pede um café. Pegam as xícaras juntos, bebem juntos, colocam as xícaras no balcão. Suspiram juntos. Esperam a passagem do eclipse juntos.
Ainda não se viram e nem trocaram nenhuma palavra. Será que vão conseguir perceber o fio que unia um ao outro naquele momento?
Um fio tão invisível como o de uma teia de aranha.
Pediram a conta juntos, sem notar. Pagaram ao mesmo tempo, cada um para um balconista.
Levantou-se ela. Levantou-se ele. Andaram até a porta. O eclipse já estava passando.
Olharam ao mesmo tempo para os seus relógios, ainda parados.
Quando o primeiro raio de luz do sol consegui ultrapassar a penumbra, pode-se ver o bater das asas do último pássaro que cruzara o céu e fizera do dia noite.
Ninguém percebeu que eram pássaros. Todas as pessoas acreditaram que era apenas um eclipse.
Ela viu o último bater de asas. Ele ouviu o último farfalhar das penas. Na hora de sair pela porta do café, esbarram-se e notaram-se pela primeira vez.
Ela se desculpou rapidamente, ele também e depois saíram. Cada um foi para um lado. Olharam seus relógios e os ponteiros tinham voltado a se arrastar.
Aqueles pássaros eram momentos. Eram segundos, minutos, horas, dias, anos, séculos congelados.
Eles eram o tempo. No momento em que a revoada de pássaros cruzou a cidade, o tempo congelou para que mais momentos únicos pudessem ficar registrados.
Muitos podem pensar que esse milagre que não costuma acontecer sempre foi um desperdicio para eles dois. Estavam lado a lado, mas não conseguiram agarrar aquele momento.
Mas de alguma maneira, o momento agarrou os dois. O fio da teia de aranha, quase inivisível e extremamente resistente já tinha feito o seu trabalho.
Eles não sabiam, mas estavam presos. Se encontrariam de novo e, talvez, o tempo parasse mais uma vez para eles.
Enquanto o tempo corre com suas pernas esguias muitos momentos nos dão a chance de se congelarem. Ficarem cristalizados na nossa memória.
Momentos, pessoas, sentimentos e pássaros que às vezes fazem nossos ponteiros parar.
Muitas vezes não nos damos conta do encatamento. Outras vezes podemos ver ou ouvir o último farfalhar das asas.
Caminhavam.
O relógico carregava todo o peso dos seus ponteiros para arrastar os minutos, enquanto o tempo do lado de fora corria com suas pernas compridas e ágeis.
No longo intervalo entre um número e outro de minuto que passava, uma corrente de acontecimentos se preparava para acontecer. Um efeito dominó.
Cruzaram-se.
Nesse momento uma nuvem de pássaros sobrevoa as suas cabeças, cobrindo o sol e fazendo uma enorme sombra. Atordoados, juntos aos milhares de pedestres,
olham para o céu procurando pela luz. Veem que o dia virou noite. Os dois olham seus relógios e percebem os ponteiros parados.
Ela deve ter uns 20 anos. Entra em uma cafeteria para esperar o eclipse passar. Não avisaram nada na metereologia.
Ele entra na cafeteria logo em seguida. Pede um café e vai se sentar próximo à porta. Sentam-se ao lado um do outro, por acaso.
Ela pede um café. Pegam as xícaras juntos, bebem juntos, colocam as xícaras no balcão. Suspiram juntos. Esperam a passagem do eclipse juntos.
Ainda não se viram e nem trocaram nenhuma palavra. Será que vão conseguir perceber o fio que unia um ao outro naquele momento?
Um fio tão invisível como o de uma teia de aranha.
Pediram a conta juntos, sem notar. Pagaram ao mesmo tempo, cada um para um balconista.
Levantou-se ela. Levantou-se ele. Andaram até a porta. O eclipse já estava passando.
Olharam ao mesmo tempo para os seus relógios, ainda parados.
Quando o primeiro raio de luz do sol consegui ultrapassar a penumbra, pode-se ver o bater das asas do último pássaro que cruzara o céu e fizera do dia noite.
Ninguém percebeu que eram pássaros. Todas as pessoas acreditaram que era apenas um eclipse.
Ela viu o último bater de asas. Ele ouviu o último farfalhar das penas. Na hora de sair pela porta do café, esbarram-se e notaram-se pela primeira vez.
Ela se desculpou rapidamente, ele também e depois saíram. Cada um foi para um lado. Olharam seus relógios e os ponteiros tinham voltado a se arrastar.
Aqueles pássaros eram momentos. Eram segundos, minutos, horas, dias, anos, séculos congelados.
Eles eram o tempo. No momento em que a revoada de pássaros cruzou a cidade, o tempo congelou para que mais momentos únicos pudessem ficar registrados.
Muitos podem pensar que esse milagre que não costuma acontecer sempre foi um desperdicio para eles dois. Estavam lado a lado, mas não conseguiram agarrar aquele momento.
Mas de alguma maneira, o momento agarrou os dois. O fio da teia de aranha, quase inivisível e extremamente resistente já tinha feito o seu trabalho.
Eles não sabiam, mas estavam presos. Se encontrariam de novo e, talvez, o tempo parasse mais uma vez para eles.
Enquanto o tempo corre com suas pernas esguias muitos momentos nos dão a chance de se congelarem. Ficarem cristalizados na nossa memória.
Momentos, pessoas, sentimentos e pássaros que às vezes fazem nossos ponteiros parar.
Muitas vezes não nos damos conta do encatamento. Outras vezes podemos ver ou ouvir o último farfalhar das asas.
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