Ela usava um vestido preto. Mas ele não durou nem a primeira hora no seu corpo.
Entraram na casa e foram conhecendo o ambiente. Uma sala muito ampla e arejada composta por um sofá, uma mesa de centro com milhares de fotos espalhadas, de família.
Ele juntou todas para abrir espaço e fazer uma entrada para os dois. Uma mesa de queijos e vinhos, quem sabe. Eles, obviamente, não comeram os queijos. O vinho, sim. Beberam inteiro.
As mãos dele lhe arrancaram o vestido com uma violência gentil. Quase que pedindo desculpas pelo gesto. As mãos dela se livraram da camisa dele.
E aquele gestual tinha uma cadência poética. Um ritmo que não era lento, mas que vinha de outros tempos.
As roupas não levaram 5 minutos para serem tiradas, mas aquele movimento já havia começado há anos.
Ele havia tentado tirar não uma peça de sua roupa, mas uma camada de sua superfície. Havia tentado estar mais próximo dela, mas sentia que ela era como uma cebola.
Quantos mais camadas lhe retirasse mais outras surgiam, como num livro onde ele arrancava as páginas e sempre encontrava outra em seguida.
Fazia aquilo num movimento compulsório e esgotante. Até que um dia sentiu que já não podia mais fracassar e acabou por se render ao cansaço.
Quando marcaram o encontro, mesmo com a experiência firme em sua carne, sua alma lhe soprava uma brisa de esperança de que talvez pudesse enfim chegar ao miolo daquele ser.
Uma expectativa tímida e camuflada lhe despertavam.
Subiram as escadas com pressa.
Ele a tomou nos braços, como há muito tempo desejava fazer e ela se deixou levar.
Chegaram no quarto, ele a jogou na cama e ela o mirou com aqueles olhos que ele nunca soube decifrar por mais que tentasse com um esforço de quem carrega tonaladas nas costas.
Deixou todo o peso do seu corpo (agregado àquelas toneladas) cair sobre o corpo dela como se isso pudesse fazê-la senitr na pele um pouco daquela angustia suprimida.
Tentando fazê-la pagar por isso, esmagando-a. Ela fechou os olhos e sorriu com um prazer sincero.
Foram se beijando, acariciando, lambendo, apertando, expremendo, chupando. Tudo isso intercalando violência e brandura.
Ele tocava-lhe o sexo e olhava o rosto dela para ver as expressões que poderiam florescer.
Sentia seu corpo fervendo, mas tinha toda a sua concentração voltada para o que ela sentia.
Queria absorver todos os nuances daqueles olhares. Cada franzir do entrecenho. Cada estremecer dos lábios. Cada suspiro.
Fixava seus olhos no rosto dela e as mãos entre as pernas e explorava aquele universo.
Queria descobrir seus pontos de maior prazer. Mas percebia que aqueles momentos de tesão eram efêmeros e se desfaziam com a mesma rapidez com que se formavam.
De vez enquando a surpreendia com os olhos vagando pelos cantos do teto do quarto e sentia que até na cama ela podia lhe escapar como uma mosca.
Apertava seu corpo contra o dela com tanta força que notava em seu rosto uma demonstração de dor. E algumas vezes sentia prazer com isso.
Era uma das coisas que podia fazê-la sentir de verdade.
Pelo menos uma dor física e não tão sofrida. Ele não queria fazê-la nenhum mal, mas, às vezes, era acometido por um desejo de vingar-se.
Ela havia o feito sofrer imensamente e ele seguia tentando imprimir nela algum tipo de sentimento.
Apertava, então, seu corpo contra o dela como se pudesse adentrar um pouco naquele universo paralelo que era ela.
Penetrava seu pênis no orifício como se fosse ele quem estivesse entrando no mundo dela.
Penetrava-a e a olhava muito. Queria olhá-la dentro dos olhos pra ver se essa entrada era permitida. Se era real. Mas os olhos dela fugiam dos dele e, quando se encontravam, era por segundos brevíssimos.
Tão breves que ele ficava na dúvida se realmente tinham existido ou se ele tinha imaginado que ela o olhava nos olhos.
Ele fazia sexo com ela tentando prolongar o máximo que podia aquele ato, para ver se era possível submetê-la ao cume da satisfação. Para vê-la explodir em gozo.
Terminou fracassando. Não pôde conter seu corpo e quando terminou e a abraçou sentiu vontade de chorar.
Ela o abraçou de volta, sem perceber aquela frustração.
Ficaram na cama, nus, durante horas, conversando. Levantavam vez ou outra pra beber mais um copo de vinho ou para ir ao banheiro.
Em um certo momento ela se calou e aquilo o inquietou de uma maneira incontrolável.
Queria saber o que se passava na cabeça dela a todo custo e não conseguiu se conter em perguntar o que a deixava muda.
Ela sorriu, docemente, como costumava fazer. Acaricou-lhe o rosto e ficou observando aqueles enormes olhos castanhos.
Ela não disse nada e aquilo foi ganhando proporções extraordinárias.
Ficou, de repente, extremamente cansado.
Soube, naquele momento, que a intimidade que tiveram naquele quarto era infinitamente menor do que a intimidade que poderiam ter se ela deixasse que ele soubesse o que se passava na mente dela.
Então se deu conta de que todo aquele esforço e esperança fresca que até então lhe soprava os ouvidos,
de que junto com cada peça de roupa que lhe tirava, arrancava junto um pedaço de resistencia dela, foi por água abaixo.
Poderia deixá-la completamente nua. Poderia introduzir seu sexo no dela por inteiro, que nunca conseguiria adentrar verdadeiramente aquele corpo.
Os olhos dela estariam sempre vagando por algum lugar do teto e o seu sorriso seria sempre doce e fulgaz.
Nesse momento sentiu uma onda de melancolia invadir o seu peito, enquanto ela passava os dedos pelo seu cabelo, distraidamente.
Depois ela levantou e disse que precisava ir embora. Recolheu suas roupas e beijou-o nos lábios.
"Pelo menos me ligue, quando chegar em casa.".
"Vou ligar!"
A porta se fechou e ele viu como o teto era próximo da cama. Como as paredes eram próximas da cama.
Os copos de vinho vazios, próximos da cama.
Ele adormeceu antes que ela pudesse ligar.
Uau Isa! Acho que esse foi seu melhor texto.
ResponderExcluirMuito profundo nas relações humanas, em mostrar o uso do sexo pra desbravar o outro.
Me lembrou aquele poema do Bandeira:
"Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
(...)
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não."
beijos!
Absurdamente fantástico!
ResponderExcluirReis.