sábado, 9 de abril de 2011

Estabanamento ou amor

Manchei você com tinta. Fiquei tão apaixonada pelas estrelas do céu da sua boca que derrubei minhas latas de tinta sobre você.
Foi estabanamento ou amor.
Fiquei com medo de você ficar triste, mas não tinha um cinza em você. Respingou muito amarelo, rosa, verde, azul e laranja.
Me encostei em você pra te resgistrar em mim e fiquei de muitas cores.
Guardei umas nuvens que achei no fundo da minha xícara de chá e servi pra você. A consistência é leve e você pode ficar com elas.
Hoje, quando acordei, o amanhecer tinha sido aberto com uma faca.
O céu tava rosa e tinha passarinho voando.
Como eu sabia que você ainda dormia, costurei a noite de volta.
Ficou tudo azul marinho e eu fiz uns furinhos no firmamento pra luz passar.
Ficou fresco. Ficou macio, o tempo. Igual a asa de borboleta quando você passa o dedo.
Pousaram umas na minha cama, quando a tarde caiu. O céu não tava nem azul marinho e nem rosa. Tava laranja.
As borboletas flutuaram pela janela do quarto até acharem meu travesseiro.
Acharam meus cabelos deitados no travesseiro, enquanto eu lia um conjunto de folhas que a gente chama de livro.
Depois acharam meus ouvidos que tavam ouvindo o silêncio. Aí entraram todas nos meus ouvidos, as borboletas.
Fizeram um ninho lá dentro e nasceu uma música.
Quando o céu tava laranja e tinha uma música num ninho dentro dos meus ouvidos eu beijei uma rã.
Ela era verde quase terra, quase mato.
Sorriu e me contou uma história de joaninha que vive dentro de flor.
Hoje achei uns poemas dentro de uma concha. O sol era amarelo manga e meu sorriso também.
Li os poemas e peguei um balão. Subi igual aos passarinhos que achei na manhã que costurei. Subi tão alto que fui até o espaço.
Encontrei uns astronautas que falavam de dunas de areia e oceânos e disse a eles que tinha um ninho de borboletas dentro de mim.
Eles me mandaram procurar uma árvore e despejar um quilo de distração nela.
Procurei uma árvore distraída e pinguei gotas de lavanda.
Ela devolveu bolhas de sabão que tinham borboletas dentro. Tinha também uma lagartixa, macia como a asa de borboleta quando você passa o dedo.
Fresca como a noite azul marinho e leve como as nuvens da minha xícara de chá.
Manchei você com as cores do meu dia. Acho que você não ficou triste porque era um dia meu pra você. Porque eu registrei você em mim.
Acho que os astronautas te contaram que eu costurei aquela manhã aberta com faca.
Ou então foi aquela rã. Ou então foi estabanamento ou amor.

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